About Us

Our work strives to enhance our sense of surroundings, identity and relationship to others and the physical spaces we inhabit, whether feral or human-made.

Selected Awards
  • 2004 — Aga Khan Award for Architecture
  • 2009 — Mies van der Rohe Award
  • 2013 — AIA/ALA Library Building Award
  • 2015 — Best Interior, Designers Saturday
  • 2016 — AIA New York Honor Award

Sofro, logo existo.

Por Juan Maresca

Sabemos que não é objeto da psicanálise analisar ao indivíduo como um grupo social. O objeto de estudo é analisa-lo e compreende-lo como sujeito dentro de uma sociedade. Sujeito e sujeitado pelos valores, ideias e ate símbolos de uma sociedade que o envolve como um redemoinho constante.

Ele/Ela, “o individuo”, não é como sua própria palavra o indica: indiviso. Ele não é indivisível em seu aspecto psíquico e sim é parte de um todo maior a ele, ele em síntese, é um ser social.

A vida psíquica deste indivíduo é parte de um mundo que o rodeia, o influencia, o moraliza. Seus juízos e prejuízos não são criados do nada na sua psique, e sim nascem fora dele pela cultura onde este situado. O contexto, o além de nós, influencia na nossa visão do mundo.

Será que é como dizia o filosofo espanhol José Ortega y Gasset, “Eu sou eu e minha circunstância” ou realmente deveria ser “As nossas circunstâncias criam nosso ser”?

Isso nos depara uma questão, temos livre alvedrio? Ou estamos conduzidos por uma corrente cultural que nos leva como um bote de papel na grandeza do rio Amazonas?

Estas correntes culturais, que diferem de época, lugar e até estamento social…, insinuam-nos que também somos levados pelas narizes por elas e que nosso domínio individual sobre o mundo tem mais de fantasia que de realidade. No caso da princesa Isabel que acabou com a escravidão no Brasil em 1888, cabe uma pergunta: Será que foi uma decisão unilateral da princesa assinar o fim da escravidão ou foi o contexto cultural que estava há anos fazendo pressão para isto acontecer? E se a princesa Isabel falecia aos dois anos de pneumonia, não teria acontecido do mesmo modo o fim da escravatura?

O individuo é parte de um contexto e esse contexto influencia na psique do indivíduo.

Mas não tudo vem de fora. Sabemos que existem forças como as pulsões que vem de dentro de nós mesmos e são indivisíveis, universais e próprias de todos os indivíduos. Mas o impacto do mundo de fora na nossa psique é o que nos faz diferentes uns dos outros.

A psicanálise é a procura da consciência na sua definição etimológica: “conhecimento, senso íntimo”. E esse senso íntimo habita no abismo de nossa psique. Nietzsche falou muito bem disto quando argumentou que, “quando se olha muito tempo para um abismo, o abismo olha para você”. Se esta frase fosse lida no seu contexto original, seguramente descobriríamos que ele não estava falando do caminho do descobrimento de nosso senso íntimo, mas gostaria de utilizar essa frase no contexto deste texto. Pesquisar no nosso abismo e que ele nos enxergue é uma linda alegoria da busca de consciência no mundo do psicanálise. O abismo sim, da medo, mas só quem tem vontade de ir traz ele é quem tem mais chance de se reencontrar.

Da a sensação que tanto Freud, Marx e muitos contemporâneos de sua cultura estavam com muita vontade de mudar as coisas. Marx na sua frase sobre a filosofia deixa claro isto, “até então, os filósofos haviam interpretado o mundo de várias maneiras. Cabe agora transformá-lo”. No objeto cientifico do psicanálise estamos frente a mesma missão: “não apenas compreender o mundo psíquico, mas ainda, e principalmente, intervir nele.” (“QUE TIPO DE CIÊNCIA É, A FINAL, A PSICOANÁLISE”, PAG. 335)

E esse “compreender e intervir nele” é a missão e pulsão essencial do trabalho do psicanalista, e essa pulsão como dogma de fé está baseada numa fé cientifica que nasce numa necessidade humana, aliviar o sofrimento psíquico.

No ano 1637, Descartes publicou o “Discurso sobre o Método”. Nesse livro escreveu a famosa frase “Penso, logo existo”, nela começou segundo muito estudiosos o começo do racionalismo onde o homem foi situado no centro da discussão tirando a Deus desse lugar. Deste momento marcante na história da humanidade nasce também o pensamento cientifico, aquele que começa não aceitando nenhuma verdade como absoluta. Muita água passou embaixo da ponte até chegarmos a Freud e seus contemporâneos.

Eu consigo imaginar a Freud falando, “Sofro, logo existo” com um esboço de sorriso na sua cara quando pensava em Sísifo subindo com sua pedra nas costas eternamente até a cima da montanha e quando ele chega lá a pedra cai e tem que voltar a subi-la.

Também imagino a Freud tentando fazer que Sísifo tenha consciência de esse sofrimento e o resinifique.  Também consigo imaginar a Sísifo falando para Freud em alguma de suas conversas, “esta pedra me pertence, com seu peso, com suas dores, mas também com sua satisfação de chegar lá na cima e sentir o logro” E também que “quando a pedra roda ladeira baixo e já não esta acima meu, também sou feliz pelo alívio de não tê-la nas minhas costas”.

Eu posso bem imaginar a Sísifo e a Freud rindo felizes por encontrarem o propósito dentro de seu próprio ser e aceitando-se tal qual é.

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